PATRIMÔNIO AUDIOVISUAL BRASILEIRO EM REDE

A 18ª CineOP chega em um momento importante. Após a extinção do Ministério da Cultura e do desmantelamento das políticas culturais promovidas a partir de 2019, elegemos uma nova gestão federal comprometida com a Democracia e com a implementação de políticas públicas para a cultura.

Em 2023 sopram novos ares e a memória, a história e o patrimônio cultural tornaram-se pontos incontornáveis para aqueles que acreditam e lutam pela democracia e pela justiça social. A Preservação Audiovisual, segmento conectado a estes conceitos e atento ao patrimônio audiovisual brasileiro, deve ocupar um lugar central nesta nova configuração política federal.

Foi o que ocorreu em janeiro na primeira edição do Fórum de Tiradentes. Reunidos em grupos setoriais com um pensamento transversal, os diversos segmentos do cinema e do audiovisual debateram e aprovaram, em conjunto com a sociedade em uma plenária aberta, propostas para um novo tempo. O grupo de trabalho da Preservação apontou os desafios, lançou ideias e indicou caminhos documentados na carta e na publicação derivadas do encontro.

Esta participação decisiva da Preservação, representada pelos seus diversos agentes e instituições, cujos profissionais estão organizados na Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA), e que tem em Ouro Preto, durante a CineOP, seu principal fórum de encontros e debates, ocorre na sequência de um período de intensos desafios impostos também pela pandemia do novo coronavírus.

Enfatizar as transformações vivenciadas neste curto período de aproximadamente dois anos já é um lugar comum. Fomos afetados de diversas maneiras pela digitalização do cotidiano e suas consequências diretas ou indiretas. Vivemos a era da precarização das relações de trabalho, da insegurança do mundo digital, de uma nova relação com os “conteúdos” audiovisuais. A digitalização da vida se acelerou a ponto de tornar-se dominante para uma grande parcela da população mundial.

Também (re)descobrimos como sociedade, neste novo contexto, o desafio e a potência das redes. Enfrentamos as redes de ódio e disseminação de mentiras enquanto vemos surgirem articulações nacionais e internacionais que promovem justiça, conhecimento e cultura. A padronização de ferramentas e de linguagem de bibliotecas de cinema da América Latina; a conexão de museus públicos e privados, de diferentes portes e territórios; o mapeamento de arquivos audiovisuais brasileiros; iniciativas que colocam a formação de redes em destaque.

A Temática Preservação da 18ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto foi construída a partir destas experiências que nos sugerem três eixos centrais: o diálogo por políticas públicas para a preservação audiovisual neste novo ciclo de governo, representada pela atualização do Plano Nacional de Preservação Audiovisual; o debate sobre a imposição do digital e suas questões éticas, técnicas e políticas; e a reflexão sobre a criação de uma rede nacional de arquivos audiovisuais.

O Plano Nacional de Preservação Audiovisual (PNPA), lançado em 2016 na 11ª CineOP, será debatido pela Associação Brasileira de Preservação Audiovisual e terá sua nova versão apresentada para o público, governo e imprensa ao final do evento. Este documento, o principal da área em nosso país, foi elaborado pelos profissionais da Preservação Audiovisual e é basilar para o debate sobre a preservação do patrimônio audiovisual brasileiro e para a implantação de políticas públicas para o setor. O Encontro de Arquivos terá em sua programação diversos espaços destinados às contribuições para a atualização do PNPA.

Outra parte da programação será ocupada por debates e apresentações de experiências relacionadas a iniciativas de mapeamento de arquivos audiovisuais, composição e trabalho em redes e formação de acervos. A criação de uma rede nacional de arquivos audiovisuais surge neste cenário como o caminho possível para o fortalecimento de instituições em todos os territórios e para uma atuação democrática que contemple as diversidades e contribua para o desenvolvimento.

Esta rede poderá se beneficiar das oportunidades de compartilhamento, acesso e acessibilidade oferecidas pelo avanço digital e contribuir para a institucionalização da preservação do patrimônio audiovisual brasileiro e para o reconhecimento desse patrimônio pela sociedade. Ela tem o potencial de reunir dados, compartilhar conhecimentos e promover o acesso, a difusão e a produção de obras audiovisuais. Ela poderia otimizar a visibilidade da nossa memória audiovisual e participar ativamente na preservação desse patrimônio.

Fernanda Coelho
Vitor Graize

Curadores Temática Preservação